As semelhanças entre a Prússia e o Japão foram
exaustivamente expostas pelos historiadores, embora os estereótipos sejam das
coisas mais discutíveis que já se inventaram. Aquela coisa de que ambas as
nações pensam em acumular capital mais do que viver, que têm muita competência,
energia, crueldade e avareza, tudo isso com muita obediência, que é ao
mesmo tempo sua fortaleza e sua fraqueza. Um dia desses, resolvi almoçar num
restaurante japonês na Alemanha. Talvez eu quisesse matar saudades dos passeios
pelo bairro da Liberdade em São Paulo, que sempre tinham uma paradinha
obrigatória para provar uns tantos sushi, sashimi, nigiri e por aí vai. É
elegante alguém dizer que não gosta de indiscrição no restaurante, de ficar
reparando no que os outros estão comendo nas mesas ao lado. Mas a verdade é que
todo mundo disfarça e sempre dá uma olhadela nos pratos alheios. Não fugi à
regra. Na mesa ao lado, um alemão resolveu pedir uma porção de chucrute. Ri
internamente, com a boca do estômago, porque não queria ser indiscreto, nem
parecer deselegante. Chucrute num restaurante japonês? Comeria o alemão
chucrute de palitinho? Não. Não pode ser. Aparece
cada personagem na vida real, pensei. Mas para minha surpresa, tinha. Havia
chucrute. E lá foi o kamikaze bávaro, com palitinhos nervosos, mandando a
carne, os legumes e a repolhada goela abaixo. Aquilo tudo junto, muito
misturado, deve ter dado uma baita Blitzkrieg
no banheiro da casa dele. Dizem que boas teorias se comprovam na prática. Então
compreendi a frustração dos historiadores que precisam de infinitas análises e
centenas de volumes em idiomas variados para comprovarem hipóteses, que em um
almoço qualquer estariam resolvidas.
por Flavio Quintale
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