Integração, palavra-chave num mundo de migrações, imigrações e
refugiados como o nosso, é sinônimo de conflitos e finais nem sempre felizes.
Essa questão faz do romance Malditas
Fronteiras de João Batista Melo publicado pela Benvirá uma obra de extrema
atualidade, mesmo sendo predominantemente ambientado no período da Segunda
Guerra Mundial.
Instalar-se, deslocar-se num
país diferente do seu, sem saber se o futuro será, de fato, melhor que o
passado é uma situação dramática. A fala do capitão do navio de imigrantes é
também uma metáfora: “Eu não gosto nem um pouco quando sou obrigado a vagar
para cá e para lá, igual àquela vez no bosque com meu pai, sem saber onde vou
poder enfim atracar. Isso não é humano, senhora”. A integração é algo vistoso
no discurso, mas na realidade está posta num abismo, cercada por um muro, na
maioria das vezes invisível: “Um duelo sem final que travavam há muito tempo,
uma peça a mais no muro que construíam entre si, afastando-se para mundos
intransponíveis nos quais algum dia talvez não pudessem mais se reconhecer
mutuamente”.
A rejeição sofrida, mostra o
autor, não é somente um drama para o refugiado, mas a prova de que o ser humano
que rejeita outro gratuitamente é um adoentado num mundo débil: “Talvez
tenhamos. Talvez todos os homens tenham a peste”.
Ao tratar de imigrantes alemães no Brasil, seja em Belo Horizonte,
cidade natal do autor, ou em outros lugares do país, João Batista desfila
referências a grandes nomes da literatura e da cultura de língua alemã: Goethe,
os Irmãos Grimm, Wagner, Mann, Freud, Remarque, Musil, Heine, Brecht, Fritz Lang e
por aí afora. Sem esquecer, evidentemente, da cerveja e dos mestres
cervejeiros, responsáveis por esse elixir dourado que faz o mundo todo reverenciar
a Alemanha.
Não são as únicas, mas Belo Horizonte e Berlim, são cidades especiais
para o romance. A primeira, com suas contradições, aparece também retratada por
personagens históricos: “João Paulo II ergueu os braços para abençoar a cidade
com a frase “que belo horizonte”, quase ao mesmo tempo em que o poeta Drummond
a chamava de “triste horizonte”. Já a
capital alemã: “Berlim era o labirinto. Mas o Minotauro não esperava no meio
das ruas repletas de carros ou entre os prédios novos que se intercalavam às
edificações históricas. [...] Berlim era o labirinto. E não adiantariam marcas
no caminho, novelos de lã ou restos de
pão como nos mitos e contos de fadas”.
João Bastsita não se aventura em experimentalismos e tem linguagem
apurada para falar de tragédias, como a queima de livros: “Ideias carbonizadas.
Sentimentos em cinzas”. Procura não cair nas armadilhas da indústria cultural
que jamais esgota a monótona repetição do mesmo. Prudente, faz parte do
prestigioso elenco das letras de um dos estados mais fecundos do país: “E os
nativos de Minas Gerais são muito cautelosos”.
por Flavio Quintale
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