quinta-feira, 10 de setembro de 2015

James Jazz Festival

 
   A epígrafe de Fitzgerald, “na noite profunda e escura da alma, são sempre três horas da madrugada”, logo de cara, e a lista de músicas a serem ouvidas durante a leitura prevista no canal do Youtube do livro (ver abaixo) dão o tom do romance A viagem de James Amaro de Luiz Biajoni publicado pela Língua Geral.  O Jazz, improvisação por excelência, dá o ritmo musical da narrativa. É uma experiência singular.
   James Amaro ecoa, em diversos momentos, The Great Gatsby. De família abastada, “usava calças e tênis de marcas importadas, algo raro naquele tempo”, sem contar os carrões de luxo, ele tem imensa atração por mulheres: “estava sempre atrás das meninas”.
 
   James torna-se advogado. Burguês casado e canalha. Com seu incansável “instinto de predador sexual” tem sempre segundas intenções com estagiárias, para tristeza da esposa Amanda. James Amaro, vara doce, é um sedutor implacável. E o Jazz faz parte da estratégia: “se você quiser comer mulheres, ouça jazz!”. Não é gratuito o jogo de palavras. Amanda ama Amaro. Mas amar James é amargo, “machista misógino”. 
   Assustado com uma amante suicida, procura sair daquele mundo. Viajar, representaria uma nova vida para James. Junto com o velho amigo reencontrado, Alex Viana, à beira de um suicídio,  empreende uma aventura On the Road, pelo interior de São Paulo e Paraty. “Caímos na estrada”. Thelma & Louise, cada um narra sua história e o leitor vai se familiarizando com os personagens. Alex Viana viveu em Londres e conta suas aventuras, para surpresa de James e do leitor, que atento, já poderia reconhecer, bem antes, o antagonismo que eles representam. Alex Viana avisa: “o único problema é que não como carne”. Ao contrário de James, que come, o tempo todo, maminha e fraldinha, na churrascaria e na cama.
   O romance, com variações de narradores, questiona a sociedade que julga as pessoas pelo o que têm e conseguem e não pelo o que são. “Ele estava meio que acima de todos, devido à sua condição social”. Pululam referências musicais e cinematográficas interagindo com temas como homossexualidade, AIDS, câncer e infanticídio.
 
   Os amigos purgam mutuamente o passado e fortalecem a amizade. O banco do carro torna-se uma espécie de divã que cura seus traumas e que os permitem a reconciliação, de alguma maneira, com a vida. O leitor se reconhece em vários momentos do romance. E irá certamente  considerar que, afinal de contas, a própria existência merece sempre uma nova chance.
 
por Flavio Quintale

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