quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Lados A e B


lado A

Em uma tarde silenciosa, lia meus livros de poesia. A monotonia das horas, para ela, era um fastio. Vestida toda de branco aproximou-se me reprovando: “Tu desprezas meus lábios para entregar-te a teus versos”. E foi-se com o passo lento, esperando que eu me pronunciasse. Displicente, levantei a cabeça e mirei seu andar de soneto. Mas o deleite das imagens e os sons enlouquecidos das palavras dominavam minha alma extasiada de admirar as curvas das elegias. Permaneci em silêncio contemplando as formas, ouvindo os poemas e suas promessas de paraíso. Ela partiu enraivecida, com o ego entristecido, e deixou-me embriagar com o néctar dos alexandrinos.

 
lado B

Em uma tarde silenciosa, lia meus livros de poesia. A monotonia das horas, para ela, era um fastio. Vestida toda de branco aproximou-se me reprovando: “Tu desprezas meus lábios para entregar-te a teus versos”. E foi-se com o passo lento, esperando que eu me pronunciasse. Displicente, levantei a cabeça e mirei seu andar de soneto. Seu caminhar heroico e seus braços nus de alegoria despertaram-me o desejo dos longos dísticos com rima. Tomei-a pelas costas, de surpresa, e minha pena embalou-a na cantiga e cada beijo completava uma estrofe da elegia que compus em seu leito. Ela permaneceu estendida, com o ego envaidecido, e deixou-me embriagar com o néctar de seus sorrisos.

 

do “Livro dos Textículos” de Flavio Quintale

Nenhum comentário:

Postar um comentário